quarta-feira, 30 de abril de 2008

mamie - para si



Não sei se existem filhos perfeitos.



Sei que não fui, sei que não sou.



Sei que do vinagre minha mãe fez néctares,

que das insónias fez sonhos,

que dos infortúnios fez venturas,

que das lágrimas fez esperanças.



Sei isso e muito mais.



Sei que se sofrer a sua perda,

quero morrer

e em sonhos sonhados

em si renascer.

terça-feira, 29 de abril de 2008



De poema a canção...

Em 1973, eram muitos os problemas e conflitos laborais.

Em função do que vivi e "crepitava" à minha volta, em vésperas do 1º de Maio escrevi o poema "Vai Maio - em mim".

Escrevi e como outros...guardei na gaveta.

Em fins desse ano, mostrei o poema ao Maestro Artur Rebocho.

Ele leu-o junto do piano do seu estudio musical e, para meu espanto, logo ali o musicou.

A minha admiração foi redobrada, já que Ary me havia dito que a poesia era "atravessada".

Em 1974, "Vai Maio - em mim" foi gravado em disco por Corina.

Corina, a viver, hoje, em terras do Tio Sam, era interprete de temas de cariz popular.

Com esta e outras composições de minha autoria, acabaria por interpretar canções fóra do estilo a que habituara o seu publico.

Hoje e aqui, edito o poema que foi e é canção como homenagem ao 1º de Maio, a todos quantos lutam por uma sociedade mais justa e mais fraterna e, em particular, à memória do Maestro Artur Rebocho, autor da melodia.

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vai Maio - em mim


vai Maio - em mim
florido e perfumado
despindo donzelas
de vestes de invernia...

vai Maio - em mim
vestido de vermelho,
natural ou tingido
pelos factos sindicais...

vai Maio - em mim
de verde trigo
e vermelhas papoilas
mostrando que o outono
é farto de pão...

vai Maio - em mim
sem preces e orações
mostrando que o futuro
é verde esperança
que se colhe
de mão em mão
na força e no querer
de cada homem

domingo, 27 de abril de 2008

un poco más allá...



un poco más allá...

hasta el puerto de tus besos
bebiendo tus palabras,
salando mis lagrimas,
navegando en tus brazos...

un poco más allá...
hasta las rutas que tienes por navegar...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

viva o 25 de Abril!



Uma vez mais...25 de Abril!

A emoção que sinto neste dia e as lembranças que me assaltam são indiscritiveis.

Lembro meus avós, meu tio-avô, a deportação da familia.

Tenho orgulho imenso nas minhas raízes, nas lutas politicas em a familia se envolveu e nas instituições de solidariedade social que ajudou a fundar ou fez desenvolver.

O avô paterno na implantação da republica e o avô materno na luta pela democracia contra a ditadura de Salazar / Caetano, foram e são estandartes que respeito.

Por essas "leviandades" estiveram na clandestinidade, sofreram a prisão, a deportação, o degredo, a "instalação" no Tarrafal.

As privações que minha mãe e tios sofreram, quando crianças, deviam ser exemplo para quem não tem o menor respeito pelos valores da vida e vive no completo alheamento por todos aqueles que lutaram e sofreram pela conquista da liberdade, da democracia, da justiça social.

25 de Abril, outra vez.

Um dia diferente que lembro e a plenos pulmões grito:

VIVA A LIBERDADE!

VIVA A DEMOCRACIA!

VIVA O 25 de ABRIL!

se as flores por mim chorarem...




Tudo na vida tem a sua história e esta canção tem a sua.

Nunca a contei. Conto hoje.

Ela foi "sonhada num repente" há muitos anos atrás.

Precisamente numa madrugada no Vitória Clube de Lisboa, na Picheleira e na preparação de mais um sarau cultural, organizado por um grupo de jovens aí residentes e denominado Grupo 8.

A "responsável" por essa inspiração foi a Lily, na altura uma mocinha bonita, extremamente simpática e que hoje, senhora, continua a sê-lo.

Inicialmente baptizada por "caminho no mundo", viria a mudar de nome para "se as flores por mim chorarem".

Pouco tempo depois, conheceu gravação comercial em Portugal e no Brasil.

Naturalmente, "transbordei" de alegria.

Como autor da musica e do poema, sou suspeitissimo, mas...gosto imenso da canção.

Compus outras,mas esta...esta é a "tal", a que nos toca, a que nos faz vibrar os sentidos.

Um dia, tive o previlégio de a ouvir tocada em cravo no Palácio de Queluz.

Que som...

Nem quiz acreditar que aquela musica era minha...

A emoção foi tanta que não contive as lágrimas.

A minha musica tocada ali, na sonoridade desse instrumento fabuloso dos séculos XVI / XVIII...foi o máximo!

Há poucos meses reencontrei a Lily e contei-lhe a história de "se as flores por mim chorarem...".

Ficou surpresa. Nada sabia. Quer ouvir a canção.

Ainda não lhe fiz chegar o CD. Um dia destes...será!

Até lá os meus amigos do Grupo 8, com quem ainda hoje convivo, amigos de infância da Lily, vão continuar a ser maliciosos e a inventar histórias sobre "aquela" inspiração...

Entretanto, a Clara, minha neta, esperta, como é, realizou e ofereceu-me o clip da canção.

(um beijão Clara!)

Para terminar esta história e porque a gratidão é coisa bonita, quero deixar aqui o meu reconhecimento à Corina e ao Dario de Barros que gravaram a composição, bem como homenagear o Maestro Rocha Oliveira (infelizmente,já falecido) que soube "entender" a minha inspiração e, de forma magnifica, orquestrou "se as flores por mim chorarem"

quarta-feira, 23 de abril de 2008

deusa e deus



rasgarás o ciúme na pálpebra do olhar amassando a raiva na desconfiança;


comerás os fígados do fel e no desespero do azedume gritarás pelos luares extáticos;


serás deusa dos sombrios e nos medos serás estátua na luz movediça...



eu, qual solarengo deus, serei a trégua,

o recuo da guerra,

o amedrontado lacaio,

o assírio da regra,

a errância da semente,

o vento despedaçado na trégua...

domingo, 20 de abril de 2008

existo!



no cansaço das mãos...desenho-me!

dou traço ao espirito,
desenho a revolta.

na fadiga da ideia,
ensaio o grito
e berro...

existo!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

na memória...



na memória ( da manhã )

há segredos ( do dia ),

um silêncio ( que acorrentas )

no tempo que de mim resta...

terça-feira, 15 de abril de 2008

abismos da noite



sobre o abismo da noite, onde o pleno esvazia a míngua, meu universo vacila, entre a fantasia dos relâmpagos alvorados e a adoração das trevas...

se o dia acordar e o meu olhar cavalgar na fúria do galope, é quase certo que preferiria que os monstros escuros continuassem a ser habitantes do universo em que a fantasia não vacila ante o temor do fantasma da noite.

se assim não for, continuarei na procura dos tesouros marinhos, onde o sono se fantasia e os olhos a pleno, são engolidos por pássaros carcomidos que, mergulhando nos meus mares, derrotam a aventura sem receios.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

um dia mais na ausência das palavras



um dia mais na ausência das palavras...

...das palavras que rasgam silêncios e se curvam no amedrontado da inocência...

...da inocência curiosa e perspicaz que soluça em cada imprevisto...

...do imprevisto que surge de rompante e despedaça a surpresa...

...da surpresa que emudece a razão e estremece o sentido...


um dia mais na ausência das palavras...

...até que outras surjam e as moribundas ressuscitem.

terça-feira, 8 de abril de 2008

com este grão...



com este grão

que trago

em minha mão,

matei a fome,

semeei o pão.



...e para que o medo não me tomasse

plantei um homem

para que o futuro vingasse.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

a minha participação na colectiva de pintura de Carcavelos...


"decapagem III" - tecnica mista sobre tela - 50 x 60 cm


"decapagem VIII" - acrilico sobre tela - 30 x 60 cm


"decapagem V" - tecnica mista sobre tela - 50 x 60 cm


um êxito, a expo colectiva de pintura de Carcavelos!



Embora a decorrer até ao próximo domingo, dia 13, podemos desde já afirmar que, a expo colectiva, efectuada com o apoio da Junta de Freguesia de Carcavelos,ultrapassou todas as previsões. O salão nobre da Junta de Freguesia foi pequenissimo para receber visitantes e convidados para a inauguração no passado sábado.

No dia seguinte, domingo, foi a vez dos mais novos exibirem o seu talento e mostrarem o que têm aprendido com os mais velhos.

Ainda no domingo e na presença dum publico interessado, a poesia uniu-se à pintura e foram recitados poemas de minha autoria e de outros participantes na mostra colectiva.

À Junta de Freguesia, como memória dum passado que tende a desaparecer, foi oferecida tela sobre pormenor da Quinta Alagoa, trabalho conjunto de duas participantes na colectiva.

A concluir, quero agradecer aos inumeros amigos que acompanharam e estiveram presentes em mais esta participação.